Se você tem obesidade ou conhece alguém come essa doença crônica, com certeza já se perguntou: Quantos kg eu (ou essa outra pessoa) preciso perder?

O problema é que a crença de precisar chegar no chamado “peso ideal” ou em um IMC (índice de massa corporal) abaixo de 25 muitas vezes pode levar o paciente a uma frustração enorme, pois acaba sendo um resultado distante.

Só que na maioria das vezes chegar nesse peso ideal é desnecessário – perdendo muito menos você já melhora sua disposição, sono, qualidade de vida, diminui o risco de diabetes e pressão alta, alem de aumentar sua expectativa de vida em mais de 20 anos!

Nesse post eu vou falar mais sobre o tema:

Classificação da obesidade

Geralmente nós médicos usamos a classificação baseada no Índice de Massa Corporal (IMC) – um cálculo do peso dividido pela altura elevada ao quadrado (IMC=peso(kg)/altura(m)ˆ2).

25 a 29,9 – sobrepeso
30 a 34,9 – obesidade grau 1
35 a 39,9 – obesidade grau 2
acima de 40 – obesidade grau 3 (obesidade mórbida)

Mas sabemos que essa não é uma boa classificação. O problema?

Usando o peso no calculo, não separamos a quantidade de massa muscular e de gordura.

Já atendi muitos pacientes classificados como sobrepeso ou obesidade grau 1 que tinham uma composição corporal melhor que outros com IMC mais baixo, devido a uma maior quantidade de massa muscular, que tem um efeito metabólico positivo no controle de glicemia, triglicerídeos, oxidação de gordura, entre outros.

Ou seja, o problema é a gordura. E como vamos a avaliar a gordura?

Foi proposta a medida da Cintura abdominal. Assim seria possível avaliar o local de maior acumulo de gordura do nosso corpo, e uma medida que sabidamente aumenta o risco cardiovascular e de outras doenças.

Mas também temos um problema – Essa medida não vai separar a gordura subcutânea (aquela que fica logo abaixo da pele e conseguimos pegar) da gordura visceral (a gordura que fica dentro do abdômen, no fígado, dentro e entre as outras vísceras e funciona como um órgão endocrino, liberando substancias inflamatórias no seu corpo e essa sim aumentando o risco das doenças.)

Então um paciente pode ter uma cintura maior por mais gordura subcutânea, e apresentar menor risco que outro de cintura maior mas com mais gordura visceral.

No consultório avalio o percentual de gordura pelo método da bioimpedância. Assim temos a quantidade de gordura total do corpo, o percentual de gordura, o nível de gordura visceral…

O percentual de gordura é o melhor método para uma avaliação do paciente, com certeza. Mas aí que entramos no problema de quanto peso perder: indivíduos obesos estão muito longe do peso ideal, e na maioria das vezes não vão chegar perto desse valor. E nem precisam perder tudo isso para uma melhora metabólica, melhora de qualidade de vida e um grande aumento da expectativa de vida.

Entende como não é tão simples assim? Mas como avaliar?

Quanto peso eu preciso perder na Obesidade?

A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e a Associação Brasileira para estudo da Obesidade propuseram uma nova classificação baseado em estudos que mostram que, mesmo não chegando no peso ideal, uma pequena perda percentual já traz grande benefícios:

Pacientes com diabetes tipo II que perderam 10 e 15% do peso tiveram taxas de REMISSÃO do diabetes de 57 e 86%, respectivamente.

Um outro estudo recente onde pacientes que haviam realizado apenas dieta OU bariátrica – cirurgia de bypass gástrico por Y de Roux e que observou 18% de perda de peso confirmou que as melhoras metabólicas eram pela perda de peso e mostrou ótimos resultados na saúde, mesmo com os pacientes mantendo um IMC acima de 35!

Perda de 3% do peso corporal -> melhora da glicemia e fertilidade, diminuição de complicações por infecção.
5% – melhora de marcadores metabólicos como colesterol, melhora de depressão, dores articulares e função sexual
7% – menor risco de diabetes tipo 2, cada KG perdido associado a uma redução de 16% no risco de diabetes tipo II.
10% – redução na esteatose hepática. Um estudo com pacientes diabéticos que perderam 10% do peso encontrou diminuição de 21% no risco cardiovascular
11% – associado a uma redução de 23% na gordura visceral.

Um estudo sueco mostrando 16% de perda de peso 10 anos após um procedimento de gastroplastia vertical, onde não são esperadas melhoras metabólicas além das ocasionadas pela perda perda de peso, apresentou diminuição de mortalidade e aumento de expectativa de vida em até 24 anos!! E os indivíduos também permanecerem com IMC acima de 35.

O que isso significa? Duas pessoas com o mesmo peso mas trajetórias diferentes podem ter riscos totalmente diferentes.

Perdas de peso de mais de 16 a 20% raramente são mantidas no longo prazo com as terapias de hoje em dia, mas novas medicações estão surgindo, cada vez com melhores resultados. Então hoje nosso objetivo é atingir uma perda de peso que cause melhorias metabólicas, e não colocar a pessoa no IMC que seria considerado normal para a população em geral. Mas como seria classificado isso?

Uma nova classificação para a Obesidade

A ABESO e a SBEM estão propondo uma nova classificação baseada na trajetória dos indivíduos obesos, após as tentativas de tratamento. É uma classificação para indivíduos de 18 a 65 anos e com IMC de 30 a 50.

O paciente deve ser perguntado do seu MWAL (maximum weight attained in life – o peso máximo que você ja atingiu na sua vida), classificado no imc (classe 1 – imc 30 a 34,9; classe 2 – imc 35 a 39,9) junto aos seguintes termos:

– “inalterada” se próximo do MWAL,
– “reduzida” se 5 a 10% de perda de peso, ou
– “controlada” se perda de 10% de peso.

Se imc de 40 a 50, controlada para 15% de perda, reduzida de 10 a 15% e inalterada se menos de 10%.

Essa classificação também serve para ajudar as pessoas a entenderam que a obesidade é uma doença crônica, e independente do peso atual, a biologia desse paciente sempre vai estar tentando levá-lo para o ganho de peso. Mostra também a importância de se coletar o peso máximo da vida na historia clinica.

O peso na gravidez não deve ser considerado, e se o MWAL foi atingido depois disso, deve se considerar o peso estável após a lactação.

Para pacientes com sobrepeso (IMC de 25 a 30), também existem alterações metabólicos relacionadas ao excesso de peso, e essa perda percentual pode ser usada da mesma forma.. Porém essa classificação em especifico é para indivíduos obesos.

Individuos próximos de seu peso máximo vão ter maior facilidade para emagrecer, comparado a indivíduos que ja estão em obesidade reduzida ou controlada.

O objetivo do tratamento da obesidade deve ser uma melhora na saude e na qualidade de vida, e perdas de peso similares (em kg) podem ter impactos clínicos muito diferentes em indivíduos diferentes, dependendo da condição inicial.

E lógico – mesmo se você tiver uma obesidade controlada, não significa que não teria benefícios adicionais por perder mais peso.

Um recente estudo observacional avaliou o peso dos pacientes em um acompanhamento de 6 anos.

Os que perderam mais de 15% do peso tiveram menos doenças cardiovasculares comparado aos que perderam menos de 7% do peso, independente do valor absoluto do peso atual do indivíduo!

E resultados semelhantes em osteoartrite e na necessidade de utilizar o sistema de saude, concordando com a proposta dessa classificação.

Por que usar a nova classificação da Obesidade

A principal força dessa classificação é a ênfase no objetivo de perda de peso com o tratamento clinico, levando a uma visão mais compreensiva do peso do paciente e como isso impacta sua saude, ajudando a estabelecer objetivos futuros alcançáveis e suficientes para uma melhora de saude e qualidade de vida. Não é para substituir outras classificações, mas sim para ajudar combinado aos outros métodos.

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post baseado no artigo – Proposal of an obesity classification based on weight history: an official document by the Brazilian Society of Endocrinology and Metabolism (SBEM) and the Brazilian Society for the Study of Obesity and Metabolic Syndrome (ABESO)