Você certamente já ouviu algum amigo, familiar, e eventualmente até mesmo (infelizmente) um profissional da saúde te dizer “pare de tomar esse Whey, pare de tomar essa Creatina, você vai acabar com seu rim!”. Assustador, né? Bom, aqui eu vou te contar o que é o whey e te mostrar as evidências cientificas quanto a relação da função renal com os suplementos, dieta de maior ingestão proteica, e a creatina.

 

O que é Whey Protein?

Primeiro, precisamos entender que o whey e demais suplementos nada mais são que a proteína extraída de alguns tipos de alimentos, e atuam de forma a complementar a ingestão de proteína da sua dieta (e até mesmo realizar sinalizações celulares, whey tem muito mais benefícios do que você imagina – tema para outro post). No caso do whey, é a proteína do soro do leite. Então temos que avaliar:

Muita proteína prejudica os rins?

É muito falado que não apenas o whey e creatina, mas proteína em geral causaria dano renal em humanos. Muitas revisões sobre o assunto já foram realizadas, e a conclusão é unânime – NÃO HÁ EFEITOS ADVERSOS COM A INGESTÃO DE PROTEINA. Um estudo foi realizado com a ingestão de proteína pelos participantes em 4,4g/kg – por exemplo, 308g de proteína ao dia em uma pessoa de 70kg, o equivalente a cerca de 1,5kg de carne ao dia. Pensando em apenas um alimento (lógico que nenhuma pessoa ingere essa quantidade proteica em apenas um alimento, e também com ajuda de vários suplementos). E nesse estudo, novamente, nenhuma alteração dos marcadores de função renal. Estudos mais longos, um ano com uma dieta alta em proteína, também não mostraram alterações.

Na verdade, quando whey é adicionado na dieta, a taxa de filtração glomerular (TFG) e o fluxo sanguíneo renal podem aumentar em até 10 a 15% sem qualquer efeito prejudicial ao rim, e aparentemente aumentam mais em resposta ao consumo de proteínas de origem animal, comparada a proteína vegetal. Então, no longo prazo, a TFG é maior e com menos resistência vascular renal com proteína animal, comparada a proteína vegetal, e isso apenas reflete o consumo proteico, não significa uma função renal melhor ou pior.

Concluindo, em pessoas sem alteração de função renal, a ingestão de proteína não causa qualquer alteração nesse órgão. E isso inclui o uso do Whey e outros suplementos proteicos. Existe um aumento na TFG com o consumo de proteína e dietas de maior teor proteico, e uma diminuição da TFG com menos proteína, mas essas variações não estão associadas com qualquer alteração prática no rim, e só significam uma adaptação a dieta.

 

Creatina e o rim

Com relação ao uso de creatina, foram feitos estudos acompanhando pacientes por cerca de 1 ano, com o uso de 5 a 10g de creatina ao dia, estudos em mulheres pós menopausa, em pacientes diabéticos, em idosos, em jovens, em atletas, e todos eles são unânimes: NÃO HÁ QUALQUER LESÃO RENAL. Ainda mais, várias revisões da segurança da creatina também não encontraram qualquer efeito adverso na função renal.

Detalhe – em pessoas que já possuem alteração da função renal, a suplementação de creatina também parece ser segura. Porém, estudos nessa população são mais escassos, e de duração menor, então a recomendação é de que pessoas com alteração de função renal evitem a creatina, ou que aquelas com fatores de risco para alteração de função renal, como diabetes e hipertensão arterial, usem a menor dose efetiva (3g/dia) depois de passar por avaliação médica.

Creatina ou Creatinina?

A Creatinina (e não creatina) é um marcador de função renal, o mais utilizado, e é eliminada pelos rins. Quando os rins não conseguem filtrar o sangue de maneira correta, esses metabolitos voltam para a corrente sanguínea, e por isso a creatinina alta consegue ser um marcador de dano renal. O que acontece é que a suplementação de creatina pode sim aumentar o nível sanguíneo de creatinina, MAS ISSO NÃO SIGNIFICA DANO RENAL, e ocorre apenas por a CREATININA SER UM SUBPRODUTO DA CREATINA! Então isso deve ser levado em consideração quando avaliar o exame de alguém que suplementa a creatina, individualizando o paciente, caso a caso.

 

Insuficiência renal e proteína

Agora, se você apresenta insuficiência renal crônica, um consumo alto de proteína pode acelerar a piora da função do seu rim. Esses pacientes devem ter acompanhamento médico próximo para acompanhamento e orientação quanto a quantidade de proteína na dieta.

 

Concluindo

Pode continuar comendo sua proteína, tomando seu whey e sua creatina (que é o suplemento mais eficaz e mais estudado para melhora do desempenho em atividade física que prioriza o sistema ATP-CP como fonte de energia…). Os estudos comprovam a segurança – e o grande número de pacientes para os quais eu prescrevo e acompanho usando esses suplementos, frequentemente realizando os exames de rotina, sem quaisquer alterações.

Se gostou, mande esse link para um conhecido e clique abaixo para agendar uma consulta se quiser passar por uma avaliação médica especializada, utilizando esses suplementos com segurança e eficácia para melhora do seu desempenho e da sua composição corporal!

Referências

Gualano, Bruno et al. “Creatine supplementation does not impair kidney function in type 2 diabetic patients: a randomized, double-blind, placebo-controlled, clinical trial.” European journal of applied physiology vol. 111,5 (2011): 749-56. doi:10.1007/s00421-010-1676-3

Neves, Manoel Jr et al. “Effect of creatine supplementation on measured glomerular filtration rate in postmenopausal women.” Applied physiology, nutrition, and metabolism = Physiologie appliquee, nutrition et metabolisme vol. 36,3 (2011): 419-22. doi:10.1139/h11-014

Gualano, Bruno et al. “Effects of creatine supplementation on renal function: a randomized, double-blind, placebo-controlled clinical trial.” European journal of applied physiology vol. 103,1 (2008): 33-40. doi:10.1007/s00421-007-0669-3

Cancela, P et al. “Creatine supplementation does not affect clinical health markers in football players.” British journal of sports medicine vol. 42,9 (2008): 731-5. doi:10.1136/bjsm.2007.030700

Pline, Kurt A, and Curtis L Smith. “The effect of creatine intake on renal function.” The Annals of pharmacotherapy vol. 39,6 (2005): 1093-6. doi:10.1345/aph.1E628

Kreider, Richard B et al. “International Society of Sports Nutrition position stand: safety and efficacy of creatine supplementation in exercise, sport, and medicine.” Journal of the International Society of Sports Nutrition vol. 14 18. 13 Jun. 2017, doi:10.1186/s12970-017-0173-z

Kontessis, P et al. “Renal, metabolic and hormonal responses to ingestion of animal and vegetable proteins.” Kidney international vol. 38,1 (1990): 136-44. doi:10.1038/ki.1990.178

Kontessis, P A et al. “Renal, metabolic, and hormonal responses to proteins of different origin in normotensive, nonproteinuric type I diabetic patients.” Diabetes care vol. 18,9 (1995): 1233. doi:10.2337/diacare.18.9.1233

Wiseman, M J et al. “Dietary composition and renal function in healthy subjects.” Nephron vol. 46,1 (1987): 37-42. doi:10.1159/000184293

Brändle, E et al. “Effect of chronic dietary protein intake on the renal function in healthy subjects.” European journal of clinical nutrition vol. 50,11 (1996): 734-40.

Skov, A R et al. “Changes in renal function during weight loss induced by high vs low-protein low-fat diets in overweight subjects.” International journal of obesity and related metabolic disorders : journal of the International Association for the Study of Obesity vol. 23,11 (1999): 1170-7. doi:10.1038/sj.ijo.0801048

Friedman, Allon N. “High-protein diets: potential effects on the kidney in renal health and disease.” American journal of kidney diseases : the official journal of the National Kidney Foundation vol. 44,6 (2004): 950-62. doi:10.1053/j.ajkd.2004.08.020